sobre as mentiras...

Postado por Abaixo do Radar , quinta-feira, 11 de julho de 2013 22:23

“And as the surface breaks, reflections fade…” (Jack Johnson)

Sentou-se sozinho mais uma vez. Em frente àquela mesa, apenas um copo d’água e um bloco de notas. Tirou do bolso uma caneta antiga, que já ameaçava falhar. Tentou expressar duas doses de boas idéias, mas engasgava-se a cada palavra.

Tentado a percorrer caminhos difíceis, sua vida era uma feitoria de reviravoltas. Herdou, entre seus valores, uma fé que lhe sustentava a cada passo, apresentando razões para seguir e acreditar. Inexplicavelmente, sentia que poderia voar.

Guardava dentro de uma reluzente armadura, um coração nobre e punhado de bons sentimentos. Ingenuamente, escolhia sempre o caminho mais complexo para fazer suas escolhas. Ouvia tanto os outros, que se esquecia de si.

Em uma única linha, afirmou que as lágrimas existiriam enquanto as pessoas preferissem a segurança de uma grande mentira ao arriscado apego em uma pequena e honesta verdade. E mesmo com todos os motivos para desanimar, construiu um sorriso com o resto da tinta que escorria pelo papel.


*Da série Sobre: a vida, recortada em detalhes.


sobre o laisser-sentir...

Postado por Abaixo do Radar , domingo, 10 de março de 2013 19:10

No paradigma valorativo da Pátria Amada, o inconsciente coletivo modelado pelos meios de comunicação de massa e seus i-artefatos é guiado em irônica descendente, rumo à nulidade criativa do aparente – e temporário – vácuo intelectual.

Hoje, a condição sine qua non para a inserção social é o aceite passivo diante da dicotomia entre à dependência estimulada e o credo vigente no total desapego. Uma entressafra crítica, onde o homem pensou o mundo e esqueceu-se de si.

A todo canto leleks solitários, pálidos a bordo de seus camaros (nem sempre amarelos), combatem suas frustrações com ousadia e alegria (?), na mais pura filosofia pós-moderna do tanto faz, pois cada vez se quer mais.

Um verdadeiro state of the art hedonista que vocifera o laissez-faire e, mesmo sem contestar, dissimula o laissez-sentir. O liberal se torna libertino, o tradicional vira ultraconservador e as referências se perdem progressivamente, em escalas moldadas ao bel-prazer individual.

Nessa total liquidez de valores, subjugam-se as minorias como desertores da carpediação. Tempos de uma inestimável riqueza tecnológica e de uma tenebrosa escassez de recursos, e de Humanos. Pobres tempos ricos.