"There are many things that I would like to say to you..." (Oasis)
Vivia um momento tenso, de uma apatia quase
completa. Então, resolveu buscar respostas começando por onde acreditava ser
mais sensato. Adentrou aquele ambiente, de maneira calma e discreta. Foi gradualmente
girando o olhar, para que pudesse notar os detalhes de cada uma das pessoas ali
presentes.
Em certo ponto, um estalo. No momento em
que seus olhos a avistaram, sua intuição alertou do risco de problemas futuros.
Conhecia tão bem o que lhe encantava que, mesmo esquivando, não conseguiu
evitar a delicadeza daqueles traços. Sua avidez em experimentar e proporcionar,
já sinalizava trabalhar questões que, há muito, havia se esquecido de viver.
Mas cada história é escrita a seu tempo. O
relógio fez tic-tac, uma, duas, várias vezes. Lentamente deu tantas voltas, que
ele já nem mais esperava. Então, tempos depois daquele grande hiato, quando até
ele mesmo estava próximo de compreender o silêncio do seu eu, aquela voz
sutilmente ecoou em seus ouvidos outra vez.
Aquele momento afetou tanto a sua percepção
quanto os outros cinco sentidos. Em dois tempos ficou inebriado pela meiguice com
que ela se expressava. Seus olhares já não conseguiam mais se camuflar entre
uma ou duas frases trocadas. Sua bússola já não lhe apontava mais a direção, e sem
saber que caminho seguir, apenas se deixou perder...
*Da série Sobre: a vida, recortada em
detalhes.
"This is real, this is as good as it gets..." (The Feelers)
Fechou os olhos. Mergulhou na imensidão das
suas memórias em um labirinto de sensações, aqui indescritíveis. Voou para um
lugar onde já tinha estado. Sentiu os cheiros, a brisa, a temperatura e
apreciou o visual.
Sentou-se no cume do Monte Éden, ao lado da
cratera daquele extinto vulcão. Lá do alto via todo aquele magnífico constructo
de ruas e prédios com contornos de mar. O verde presente em cada esquina
tornava quase visível a pureza do ar.
Seguiu seu caminho através das trilhas dos
enormes parques, apreciando cada detalhe da natureza. A beleza das flores e
plantas entorpecia o pulsar do seu coração. O vento Pacífico já não mais se aquietava e insistia em soprar mais e mais frio.
Finas gotas de chuva começavam a molhar seu
rosto. Relaxado e feliz continuava caminhando e agradecendo a Deus por estar
ali. Sim, os seus pensamentos conseguiram lhe conduzir a um estágio de paz. Momento que ele
queria, apenas, viver.
*Da série Sobre: a vida, recortada em
detalhes.
“Kiss me where your eye won't meet me, meet me where your eye won't flip
me…” (Franz Ferdinand)
Naquele momento, uma dose de esperança. Talvez
duas, ou quem sabe três! Em um lapso de atenção por puro descuido, foi se deixando
envolver naquela conversa sutil e doce. Em dois tempos, já prestava bem mais
atenção nas nuances da interlocutora do que em suas próprias palavras.
A troca de idéias fluía interminavelmente.
Os olhares, um tanto menos tímidos foram encontrando-se cada vez mais. A cada
palavra proferida, sentiam-se mais à vontade, como se tudo aquilo fosse apenas reflexos
de um dia comum, na segura companhia de alguém que já se conhece bem.
Leves toques, como o vento à beira-mar.
Seus olhos já não mais procuravam apenas o encontro com os dela. Por vezes,
derrapavam delicadamente alguns centímetros abaixo e conduziam-no a uma viagem atemporal
desejando aquela boca. Conseguia em seus pensamentos, sentir o gosto do beijo
que não iria roubar.
A respiração já ficava tensa, variando em
ritmo e intensidade. Seu cérebro pedia foco e seu coração, ação. Em um dueto repleto
de contrastes vocais, cada um cantava a música no tom que lhe cabia. O fato é
que, mesmo em uma evidente harmonia, esperou que novas oportunidades lhe guiassem a
escorregar, quem sabe, outra vez.
*Da série Sobre: a vida, recortada em
detalhes.
Postado por
Abaixo do Radar
,
00:24
“Rotating wheels of destiny inflame the city lights." (Propaganda)
Era uma noite de setembro, o relógio
marcava algo entre sete e oito, não tinha certeza. Estava tomado pela sensação
das coisas boas que estavam por acontecer. Tomou o controle do volante e saiu
pela cidade sem rumo, mas sabendo onde queria chegar.
No meio do caminho, encontrou-se com seus
pensamentos. Deixou que a música o envolvesse de modo a apresentá-lo
questionamentos sobre o quê, o quando e o se. Resolveu trocar de faixa, mas não
se esqueceu de sinalizar a mudança.
As paisagens que ficavam para trás passavam
despercebidas. Os reflexos do retrovisor se transformavam em imagens tão belas
quanto as que agora construíam sua imaginação. Relaxou e permitiu que a sutileza
tomasse conta de si.
Quando o amarelo foi predominante, preferiu
ter atenção. Lembrou-se que passada a vez do vermelho, o verde sempre brilha outra
vez. E sabia que, se mantivesse a fé, o destino ou as luzes da cidade se
encarregariam de todas as respostas.
*Da série Sobre: a vida, recortada em
detalhes.
“Down by the water and down by the old main drag…” (The Decemberists)
Ela tinha os olhos castanhos, o cabelo
dourado e o comportamento oscilante, típico do início da fase adulta. Um dia
quente, um dia fria, entre linhas e linhas jurava que não mais acreditaria nas
histórias que ouvia.
A pele, bonita e macia, contrastava com a
dureza na expressão de quem estava magoada e ferida. Amar nunca foi das coisas
mais simples e ela ainda estava aprendendo. Aquele olhar marejado, combatido
com palavras secas, nada escondia.
Ele tinha os olhos cansados, as mãos
quentes e algumas experiências a mais. Já havia vivido vários cenários do jogo
e aprendido a ganhar e perder. No meio desses percursos percebeu que, na vida e
no amor, o importante é no que se acredita.
Ouviu dela as mágoas e desconfianças que
apertavam aquele coração jovem e inseguro. Ao olhá-la nos olhos, apenas acolheu
suas dores. Dores que só precisavam fluir como as águas de uma
corredeira. E se precisasse de um colo, o dele estaria ali.
*Da série Sobre: a vida, recortada em
detalhes.
"Ain't thinking about monday or tuesday or wednesday it's all right..." (The Underdog Project)
Era uma segunda chuvosa, daquelas em que a
nostalgia incita uma boa música e um bom vinho. Enquanto a noite caía, vinham
juntas as lembranças do que ainda nem tinha acontecido. Entre as combinações
matemáticas e químicas que a vida lhe ensinara, ainda não havia
encontrado a fórmula que desse o resultado desejado.
Era uma segunda ensolarada, daquelas em que
a agonia incita um ar-condicionado, uma rede e um bom livro. Enquanto o dia
seguia, fortalecia a certeza de que as coisas seriam mais leves. E ao acelerar
os pensamentos, somatizava a ansiedade por acreditar que estava cada vez mais
perto da chave do enigma.
Era uma segunda, apenas uma dentre tantas
que viriam. Uma a mais ou a menos, dependendo do ângulo de quem vê. Para ele,
apenas um contínuo recomeço e uma nova chance de encontrar a passada
correta. No final, sobrava aquela porção
de intuição que lhe dizia para continuar na mesma direção.
Era uma segunda, mas poderia ser uma terça
ou sexta. Ainda que fosse assim, não deixaria de ser parte de um todo. No
fundo, não lhe importava a ordem. Mesmo sabendo que a primeira não mais seria,
continuaria zerando a contagem a cada nova tentativa. E seguiria tentando,
acreditando e observando.
*Da série Sobre: a vida, recortada em
detalhes.
“Se avexe não, a lagarta rasteja até o dia
em que cria asas..." (Flávio José)
Sempre culpam a pressa e colocam o tempo
como o remédio de tudo. Se realmente é, não faço a mínima idéia, mas acredito
piamente que há uma razão para tudo acontecer. Seja lá qual for, começo a
acreditar que o tempo tenha trabalhado a meu favor. Ele pode até não ser meu
melhor amigo, mas inimigo, não é.
Nem para a pobre lagarta o caminho é fácil.
Surgem tantas intempéries, que ela poderia simplesmente desanimar de seguir o
curso natural da vida. Dizem que Deus só dá asas para quem não sabe voar. E não
é verdade? O interessante é que, no caso das lagartas, elas aprendem. E o bichano
tão rejeitado se torna um dos mais graciosos e apreciados.
Assim é a vida, para nós, humanos. Às vezes
caímos, rastejamos, erramos. Outras vezes, cortam nossas asas. O que tenho
aprendido é que sempre que se cai é possível levantar. Hoje, compartilho o
aprendizado de que não é preciso ter pressa. As coisas acontecem como hão de ser.
Por mais que você tenha foco e deseje
plenamente uma coisa, às vezes você será lagarta. Depende de você ir além.
Lembre-se que as lagartas criam asas e eliminam aquilo que as prendiam aos
campos de terra molhada. Se acreditar que pode voar, você se transformará em uma
bela borboleta. E, assim, descobrirá jardins novos e ainda mais belos.
*Da série Sobre: a vida, recortada em
detalhes.
Postado por
Abaixo do Radar
,
00:02
"I wanted love, I needed love, most of all, most of all..."
(The Black Keys)
Fecham as cortinas e apagam as luzes do
palco. Efusivos aplausos em uma ovação. Curvam-se em frente ao público em forma
de agradecimento. Encerram o diálogo com um beijo de arrancar suspiros, dignos
de um final feliz.
Olhos nos olhos, enquanto as mãos foram se
entrelaçando. O carinho já era além do esperado. Já conversavam há um bom
tempo, sobre temas diversos e com a liberdade de quem têm segurança no outro. A
amizade foi dando espaço a algo ainda mais especial.
No pensamento de ambos brotava a dúvida. Na
incerteza das relações, tinham convicção de que eram amigos. As diferenças já
pareciam tão simples perto das afinidades. A transparência sustentava cada
palavra proferida, fortalecendo o que surgia.
Logo no primeiro diálogo notaram algo
diferente, ainda que de forma sutil. Havia mais ali do que poderiam supor. De
uma forma inesperada se conheceram, apresentados pelo destino. O relógio
marcava 23 horas de um dia cansativo. Ato um: adormeceram e sonharam.
*Da série Sobre: a vida, recortada em
detalhes.
"Goes round and round and round and round and round..." (Mischa Daniels)
Lembrou que por vezes
caiu, levantou, sorriu, chorou e que Deus nunca o deixou carregar algo mais
pesado do que poderia suportar. Aprendeu que cada experiência deixa marcas e
resolveu usá-las para melhorar sua estrutura.
E, assim, compreendeu
que a vida é um movimento contínuo que roda e gira, gira e roda, gira e gira,
roda e roda, gira e roda, roda e gira, roda e roda, gira e gira. Rodou.
As vezes tudo pára,
outras tudo vira, em um constante pára e vira, vira e pára, pára e pára, vira e
vira, vira e pára, pára e vira, vira e vira, pára e pára. Virou.
Enquanto roda, gira,
pára e vira, o tempo segue, a vida muda. Se no tabuleiro do jogo da vida as
peças forem movidas com equilíbrio entre seus erros e acertos, o amadurecimento
chega. E , com ele, novos ciclos que rodam, giram, param e viram!
*Da série Sobre: a vida, recortada em detalhes.
"I'll calm down and I'll get along with you..." (The Strokes)
O calendário marcava 29, mas lá fora estavam
27. Entretanto, o que realmente importava é que nada seria o mesmo após as 23,
quando ele decidisse aceitar o gentil convite e entrar naquele transe, ouvindo faixa
após faixa, músicas de todos os gêneros em busca de uma deixa, uma queixa, uma
inspiração.
Aquele seu domingo estava mais parado do
que o trânsito da Marginal Pinheiros, com fortes chuvas no horário do rush. Não era bem aquilo que esperava,
afinal estava apenas na metade de um feriadão onde as coisas (em sua imaginação)
deveriam estar mais pulsantes que fazer compras na 25 em época de Natal.
Saiu do seu esconderijo com a certeza de
que ela já havia colocado o seu nome na lista. Dirigiu-se até o local sabendo
que, para ele, a entrada era paga. O preço, disposto na bilheteria, não o
afligiu mais do que adentrar naquele ambiente desconhecido sem saber o que
esperar. Então, contrariou os riscos do dia sem brilho e investiu seu capital em
ações da noite.
As portas se abriram e ele logo tomou suas
percepções sobre o local. A temperatura agradável logo na chegada o animou e
arrancou um discreto sorriso. Era um ambiente iluminado, com decoração de bom
gosto, músicas bem selecionadas, sabores diversos e, no aguardo, estavam suas
quatro companhias. Bem, estas merecerão alguns capítulos a parte!
O fato é que ela fez as honras da casa, com
a nobreza de uma qualificada anfitriã. Ofereceu uma cerveja gelada, o
introduziu ao quarteto que já guardava uma bateria de perguntas, tão bem construídas
entre assuntos diversos sobre o universo e conspirações de esquina, que o
deixaram bem à vontade. Aquela noite rendeu boas risadas e a certeza de que
novos encontros virão...
*Da
série Conexões: um conto entre cantos deste país.
“My brain is not damaged, but in need of some repair..." (Kaiser Chiefs)
Dia após dia, a batalha seguia. As coisas
já não eram como outrora. Como um kamikaze
procurou ouvir de alguém que o conhecia tão bem, aonde guardava acertos e
erros. Descobriu que não deveria estar tão duvidoso de si, nem do que poderia
fazer. Sim, era um cara bem melhor do que as pancadas da vida o levaram a crer.
Corajoso, embora ferido, ouviu tudo aquilo
que precisava. Recebeu um brinde de carinho, respeito e sinceridade, pela nobre
atitude daquela pessoa. De quem esperava mais uma ou duas pancadas que o
acordassem para uma triste realidade, recebeu um suprimento de oxigênio extra e
uma mão estendida dizendo: você é forte, vamos!
Ainda que tivesse deixado escapar uma
lágrima nesse momento, confiou no que ouvira, pegou a máscara e respirou.
Deixou para trás toda a ansiedade que o fincava com os pés no chão, travando
seus sonhos por conta da insegurança. Naquele dia, acreditou em valores como
gentileza, nobreza e companheirismo. Outra vez.
Levantou-se com o dia seguinte ainda mais
claro e quente que o habitual para aquela época do ano. Estranhou tudo, mas
botou os pés no chão e abriu um sorriso. Olhou no espelho do seu quarto e viu
um cara marcado pelo tempo, mas com um coração bom. E resolveu que a partir
dali, com ou sem dor, não caberiam mais lágrimas...
*Da série Sobre: a vida, recortada em
detalhes.
“I close my eyes, only for a moment, and the moment is gone…" (Scorpions)
Um, dois, três, quatro, cinco. Com a mesma precisão das posições dos pés, desfilava fluidez por todo seu corpo, mantendo a postura e a harmonia em cada movimento. Despertava um charme na simplicidade das coisas, da mesma maneira como transmitia estabilidade através do en dehors que encantava os que apreciavam a arte da sua existência.
Na dança da vida, não era mais uma menina. Foi quieta, agitada, independente, mimada, mas decidiu ser bailarina. No abrir das cortinas exibiria graciosamente toda aquela paixão que guardava há anos dentro de si e só os mais íntimos ou uns poucos sortudos, seriam capazes de reconhecer.
Ela não fazia o gênero que expunha seus sentimentos facilmente no dia a dia e precisava de um álibi para que continuasse assim. Mas já estava explodindo de tanto sentir e quem estava um pouco mais perto já notava as tensões. Revelou em adágio que, no trocar de posições em uma coreografia bem elaborada, poderia soltar o melhor de si e, assim, o fez.
Seu riso contagiante não transparecia suas dores e cativava as almas que lhe cercavam. Mas, terminado o espetáculo, a cortina fecha. A bailarina sempre sabe o que sente, após os aplausos. Aquela mesma sapatilha que aperta por dentro, exprime ao mundo a leveza do ser que a calça. Mas na posição de espectador sei em cada um dos movimentos dela, o que é provar uma dose de paz.
*Da série Sobre: a vida, recortada em detalhes.
“You smile, mention something that you like..." (Franz Ferdinand)
Era bem mais experiente que ela, embora ela não se importasse. A vida já havia lhe ensinado poucas e boas, através de aventuras alegres e punições severas, daquelas que marcam com profundas cicatrizes o corpo de quem as carrega consigo. Ainda sim, existia uma confiança plena entre os dois.
Chegava a ser engraçado como ele ria da leve inocência expressa na doçura dos atos dela. Tampouco compreendia todo aquele potencial a evoluir, mas que por insegurança, medo ou, talvez, certa falta de ambição travavam-na. Ela era, sem dúvida, uma das melhores pessoas que ele já havia conhecido.
Ela, por sua vez, tinha motivos para rir da complexidade de experiências que aquele rapaz havia vivido, com tantas histórias, coincidências e suspenses capazes de render um livro. Sabia que eram diferentes, mas acreditava que todo esse repertório poderia ser o combustível dos sonhos de ambos.
No fim das contas, eram duas apenas almas que vagavam solitárias. Encontraram-se ao acaso, talvez por algumas questões marcadas certas por ele em uma prova qualquer, dessas que decidem o destino de qualquer um. Era apenas o começo, mas ambos já sabiam que aquilo mudaria a história de ambos para sempre...
*Da série Sobre: a vida, recortada em detalhes.
1 – Kill Bill 1
2 – Kill Bill 2
3 – A Vila
4 – Closer
5 – Juno
*Da série Top5: listas e rankings, do jeito que eu gosto.
“Eu já passei por quase tudo nessa vida, em matéria de guarida espero, ainda, a minha vez...” (Zeca Pagodinho)
A vida da gente é recheada de escolhas, opções, experiências distintas e em muitos aspectos pode lembrar a construção de uma cidade. Sim, uma cidade, com milhares de formas e modelagens, propósitos completamente diferentes, talvez desprovidos de qualquer harmonia.
Os “carpediadores” que me perdoem, mas, embora questionável, essa harmonia é fundamental. Não consigo achar crível ou sensato que alguém consiga viver completamente no “deixa a vida me levar”, sem qualquer planejamento para chegar a algum lugar, ou tomar determinada decisão.
Não, não estou fazendo uma defesa do artificialismo e do continuum tático e estratégico, embora acredite que isso faça diferença. O ponto é que, certas vezes o excesso de carpediação¹ na pós-modernidade² leva a uma diversão momentânea e a uma inexplicável leveza, mas que talvez deixe as coisas um pouco mais superficiais e sem rumo, quando se trata das relações interpessoais.
E, assim, cada vez mais as pessoas sentem falta das coisas sentidas, experimentadas, vividas e construídas em parceria, porque preferem “ver no que vai dar”, do que tentar um mínimo de demonstração mais elaborada de onde se pode chegar. Mas, onde é mesmo?
¹ Neologismo meu para a prática do carpe diem.
² Referência aos textos do mestre Bauman.
*Da série Teorias de uma Vida: um palpite sobre (quase) tudo.
“And I’ll do anything it takes just to get there..." (Mark Ronson)
Estou parado, sentindo o ar-condicionado esfriar o ambiente a uma temperatura que eu gostaria que fosse a do meu coração. Bem pudera, depois de tanto tempo em sua convivência, te ter como alguém que passou me dói à alma.
É duro ter que se concentrar em uma aula ao mesmo tempo em que seu cérebro projeta imagens daquilo que poderia ser vivido e te faz questionar onde você está agora. Pior ainda é saber que não tenho esse direito.
Os dias seguem e eu vivo neste embate épico entre o sentimento que carrego e o vivenciar do luto, para aprender a conviver com a perda que tanto machuca. Sinto como se tivesse que ler a próxima página de um livro, fingindo que o capítulo anterior não fosse o mais significativo.
Reescrevo a minha história, sem saber ao certo o que contar. Você disse que me amava, mas que o fim era o melhor para nossa história. Sei que enquanto houver sentimento vou te esperar, porque mesmo sem se dar conta do quanto, deixastes a marca mais profunda que tenho em mim...
*Da série Sobre: a vida, recortada em detalhes.
“And all the roads we have to walk are winding..." (Oasis)
Sinto tua falta. És, entre tantas, aquela que escolhi. Hoje, não te tenho mais aqui, mas gostaria que você soubesse disso um dia. Tenho-te como a mulher amada, a mais especial, aquela que um dia me fez querer dar o melhor de mim. Certamente, você não verá o que escrevo, até porque não vou te mostrar. Estou apenas contando ao mundo o que apenas você não sabe.
Brigávamos como todos os casais brigam. Erramos demais, por pura bobagem e insegurança. Diversas vezes deixamos de cuidar de nós, para apontar os erros do outro. Machucamos um ao outro, sem nos darmos conta do quanto aquilo prejudicaria o que era importante para nós. Não sei se para você ainda é, mas quero que você saiba que para mim continuará sendo.
Ah, como você é bonita! É acima de qualquer conceito estético, aquela que me faz sonhar. Com você meus desejos não machucam o respeito, minha fidelidade anda de mãos dadas com o carinho. Meus olhos precisam dos teus, teu cheiro invade a minha alma e teu sorriso me hipnotiza. Com você dividiria os meus sonhos, compartilharia a minha vida.
Quero que saiba que independente das dificuldades e dos machucados, eu continuarei firme. Se ontem não agimos certo é porque precisávamos amadurecer. Valorizo tudo que nós vivemos e torço (e muito) para que possamos viver mais. Sei que o amor que sentimos é verdadeiro e puro. E mesmo que demore, iremos nos reencontrar. No amor e na fé, seguirei esperando...
*Da série Sobre: a vida, recortada em detalhes.
“And he’s a prodigal son, with his backs to the wall..." (Howl)
Hoje, com clareza, vejo todos os meus erros. As coisas que disse sem precisar, as vezes que te fiz chorar quando tudo que eu queria era te ajudar a viver um sonho. Que falta de sensibilidade da minha parte. Que bobo eu fui.
Sempre nos dizem para não descontar as frustrações de uma pessoa em outra. Parece que descontei todas em você. Logo a pessoa que mais me importou e que, com tanta dedicação, me ajudou a ser um homem melhor e reconhecer (agora) os meus defeitos.
Digo-te de todo o meu coração que parei a minha vida para mudar conceitos. O tão inflexível eu, que por vezes te decepcionou, está aberto a ser uma pessoa melhor. Aprendi que quando se ama se deve pensar no outro. Hoje, penso em mim. Mas penso (e muito) em nós.
O futuro a Deus pertence. Mas talvez tenha te perdido para sempre. Humildemente peço perdão se te exigi coisas demais e esqueci-me de ver os meus erros. A aliança que não tenho mais nas mãos, carrego na alma. E se assim for a vontade d’Ele, n’outra volta te farei feliz (por completo)...
*Da série Sobre: a vida, recortada em detalhes.
P.S. Um feliz aniversário para a pessoa mais especial que tive a oportunidade de conhecer e que, certamente, não olhará esse blog...
“It’s not appropriate, don’t think that this is it..." (Two Door Cinema Club)
Ela, sempre participativa, nunca deixava de fitá-lo com o olhar. Ele mantinha a postura, tanto pela ética, quanto por motivos dos quais esquivava lembrar. Guardava uma distância segura, talvez para evitar que os fins justificassem os meios.
No começo eram calças jeans e camisetas, em um básico despojado que se não fossem as belas madeixas e tom de pele, passaria despercebida. De repente, o estilo foi passando a um vestido com decote sexy-provocativo e um make-up bem mais elaborado, atenuando um desejo de batalha.
Ela acentuou as pinceladas provocantes, apimentando seu jogo com ligações e mensagens desnecessárias. Ele resistia, agia desentendido e seguia inabalável. Nem mesmo o caprichado abraço e as 43 razões para retribuir um olhar pareciam afetá-lo.
O fim da estória, que ainda não tinha chegado mas já parecia próximo, ninguém sabe. O certo é que ele manteria a postura de sempre, mesmo curioso sobre o que mais ela tentaria. Restava, apenas, saber do que mais ela era capaz.
*Da série Sobre: a vida, recortada em detalhes.
“The summer's gone before you know..." (Massive Attack)
Carregava as mais diversas marcas de batalha e acabava de sair dilacerado de mais uma delas. Combativo, mas já sem tanta vitalidade naquele momento, seguia degrau a degrau enfrentando suas dores e aceitando as cicatrizes que reconhecia em si.
Carregava as marcas do tempo, da família que havia constituído e reconstituído. Doce, mas já sem tanta meiguice naquele momento, não era mais aquela bela menina com corpo de mulher que outrora causava um furor por onde passava.
Carregavam as lembranças de algo que um dia pareceu que seria, mas nem chegou a ser. Estranho, mas já desconexo naquele momento, haviam sido amantes ardentes, amigos, companheiros, mas nunca namorados.
Esbarraram no momento em que ele saía e ela entrava. Um festival de encontros desencontrados que os deixava, de certo modo, constrangidos. Embora a distância tenha se tornado lugar comum, a deferência entre ambos os fez lembrar com carinho do que talvez nem tenha sido.
*Da série Sobre: a vida, recortada em detalhes.