sobre a bailarina…

Postado por Abaixo do Radar , segunda-feira, 30 de abril de 2012 16:18

“I close my eyes, only for a moment, and the moment is gone…" (Scorpions)

Um, dois, três, quatro, cinco. Com a mesma precisão das posições dos pés, desfilava fluidez por todo seu corpo, mantendo a postura e a harmonia em cada movimento. Despertava um charme na simplicidade das coisas, da mesma maneira como transmitia estabilidade através do en dehors que encantava os que apreciavam a arte da sua existência.

Na dança da vida, não era mais uma menina. Foi quieta, agitada, independente, mimada, mas decidiu ser bailarina. No abrir das cortinas exibiria graciosamente toda aquela paixão que guardava há anos dentro de si e só os mais íntimos ou uns poucos sortudos, seriam capazes de reconhecer.

Ela não fazia o gênero que expunha seus sentimentos facilmente no dia a dia e precisava de um álibi para que continuasse assim. Mas já estava explodindo de tanto sentir e quem estava um pouco mais perto já notava as tensões. Revelou em adágio que, no trocar de posições em uma coreografia bem elaborada, poderia soltar o melhor de si e, assim, o fez.

Seu riso contagiante não transparecia suas dores e cativava as almas que lhe cercavam. Mas, terminado o espetáculo, a cortina fecha. A bailarina sempre sabe o que sente, após os aplausos. Aquela mesma sapatilha que aperta por dentro, exprime ao mundo a leveza do ser que a calça. Mas na posição de espectador sei em cada um dos movimentos dela, o que é provar uma dose de paz.


*Da série Sobre: a vida, recortada em detalhes.

sobre o acaso...

Postado por Abaixo do Radar , sexta-feira, 13 de abril de 2012 00:24

“You smile, mention something that you like..." (Franz Ferdinand)

Era bem mais experiente que ela, embora ela não se importasse. A vida já havia lhe ensinado poucas e boas, através de aventuras alegres e punições severas, daquelas que marcam com profundas cicatrizes o corpo de quem as carrega consigo. Ainda sim, existia uma confiança plena entre os dois.

Chegava a ser engraçado como ele ria da leve inocência expressa na doçura dos atos dela. Tampouco compreendia todo aquele potencial a evoluir, mas que por insegurança, medo ou, talvez, certa falta de ambição travavam-na. Ela era, sem dúvida, uma das melhores pessoas que ele já havia conhecido.

Ela, por sua vez, tinha motivos para rir da complexidade de experiências que aquele rapaz havia vivido, com tantas histórias, coincidências e suspenses capazes de render um livro. Sabia que eram diferentes, mas acreditava que todo esse repertório poderia ser o combustível dos sonhos de ambos.

No fim das contas, eram duas apenas almas que vagavam solitárias. Encontraram-se ao acaso, talvez por algumas questões marcadas certas por ele em uma prova qualquer, dessas que decidem o destino de qualquer um. Era apenas o começo, mas ambos já sabiam que aquilo mudaria a história de ambos para sempre...


*Da série Sobre: a vida, recortada em detalhes.

top 5: piores filmes famosos

Postado por Abaixo do Radar , sábado, 7 de abril de 2012 09:58

1 – Kill Bill 1
2 – Kill Bill 2
3 – A Vila
4 – Closer
5 – Juno

*Da série Top5: listas e rankings, do jeito que eu gosto.

teorias de uma vida: carpediação

Postado por Abaixo do Radar , sexta-feira, 6 de abril de 2012 02:07

“Eu já passei por quase tudo nessa vida, em matéria de guarida espero, ainda, a minha vez...” (Zeca Pagodinho)


A vida da gente é recheada de escolhas, opções, experiências distintas e em muitos aspectos pode lembrar a construção de uma cidade. Sim, uma cidade, com milhares de formas e modelagens, propósitos completamente diferentes, talvez desprovidos de qualquer harmonia.

Os “carpediadores” que me perdoem, mas, embora questionável, essa harmonia é fundamental. Não consigo achar crível ou sensato que alguém consiga viver completamente no “deixa a vida me levar”, sem qualquer planejamento para chegar a algum lugar, ou tomar determinada decisão.

Não, não estou fazendo uma defesa do artificialismo e do continuum tático e estratégico, embora acredite que isso faça diferença. O ponto é que, certas vezes o excesso de carpediação¹ na pós-modernidade² leva a uma diversão momentânea e a uma inexplicável leveza, mas que talvez deixe as coisas um pouco mais superficiais e sem rumo, quando se trata das relações interpessoais.

E, assim, cada vez mais as pessoas sentem falta das coisas sentidas, experimentadas, vividas e construídas em parceria, porque preferem “ver no que vai dar”, do que tentar um mínimo de demonstração mais elaborada de onde se pode chegar. Mas, onde é mesmo?


¹ Neologismo meu para a prática do carpe diem.
² Referência aos textos do mestre Bauman.


*Da série Teorias de uma Vida: um palpite sobre (quase) tudo.

sobre a espera…

Postado por Abaixo do Radar , quinta-feira, 5 de abril de 2012 00:05

“And I’ll do anything it takes just to get there..." (Mark Ronson)

Estou parado, sentindo o ar-condicionado esfriar o ambiente a uma temperatura que eu gostaria que fosse a do meu coração. Bem pudera, depois de tanto tempo em sua convivência, te ter como alguém que passou me dói à alma.

É duro ter que se concentrar em uma aula ao mesmo tempo em que seu cérebro projeta imagens daquilo que poderia ser vivido e te faz questionar onde você está agora. Pior ainda é saber que não tenho esse direito.

Os dias seguem e eu vivo neste embate épico entre o sentimento que carrego e o vivenciar do luto, para aprender a conviver com a perda que tanto machuca. Sinto como se tivesse que ler a próxima página de um livro, fingindo que o capítulo anterior não fosse o mais significativo.

Reescrevo a minha história, sem saber ao certo o que contar. Você disse que me amava, mas que o fim era o melhor para nossa história. Sei que enquanto houver sentimento vou te esperar, porque mesmo sem se dar conta do quanto, deixastes a marca mais profunda que tenho em mim...


*Da série Sobre: a vida, recortada em detalhes.

sobre o amadurecimento...

Postado por Abaixo do Radar , quarta-feira, 4 de abril de 2012 00:09

“And all the roads we have to walk are winding..." (Oasis)

Sinto tua falta. És, entre tantas, aquela que escolhi. Hoje, não te tenho mais aqui, mas gostaria que você soubesse disso um dia. Tenho-te como a mulher amada, a mais especial, aquela que um dia me fez querer dar o melhor de mim. Certamente, você não verá o que escrevo, até porque não vou te mostrar. Estou apenas contando ao mundo o que apenas você não sabe.

Brigávamos como todos os casais brigam. Erramos demais, por pura bobagem e insegurança. Diversas vezes deixamos de cuidar de nós, para apontar os erros do outro. Machucamos um ao outro, sem nos darmos conta do quanto aquilo prejudicaria o que era importante para nós. Não sei se para você ainda é, mas quero que você saiba que para mim continuará sendo.

Ah, como você é bonita! É acima de qualquer conceito estético, aquela que me faz sonhar. Com você meus desejos não machucam o respeito, minha fidelidade anda de mãos dadas com o carinho. Meus olhos precisam dos teus, teu cheiro invade a minha alma e teu sorriso me hipnotiza. Com você dividiria os meus sonhos, compartilharia a minha vida.

Quero que saiba que independente das dificuldades e dos machucados, eu continuarei firme. Se ontem não agimos certo é porque precisávamos amadurecer. Valorizo tudo que nós vivemos e torço (e muito) para que possamos viver mais. Sei que o amor que sentimos é verdadeiro e puro. E mesmo que demore, iremos nos reencontrar. No amor e na fé, seguirei esperando...


*Da série Sobre: a vida, recortada em detalhes.

sobre o perdão…

Postado por Abaixo do Radar , terça-feira, 3 de abril de 2012 00:07

“And he’s a prodigal son, with his backs to the wall..." (Howl)

Hoje, com clareza, vejo todos os meus erros. As coisas que disse sem precisar, as vezes que te fiz chorar quando tudo que eu queria era te ajudar a viver um sonho. Que falta de sensibilidade da minha parte. Que bobo eu fui.

Sempre nos dizem para não descontar as frustrações de uma pessoa em outra. Parece que descontei todas em você. Logo a pessoa que mais me importou e que, com tanta dedicação, me ajudou a ser um homem melhor e reconhecer (agora) os meus defeitos.

Digo-te de todo o meu coração que parei a minha vida para mudar conceitos. O tão inflexível eu, que por vezes te decepcionou, está aberto a ser uma pessoa melhor. Aprendi que quando se ama se deve pensar no outro. Hoje, penso em mim. Mas penso (e muito) em nós.

O futuro a Deus pertence. Mas talvez tenha te perdido para sempre. Humildemente peço perdão se te exigi coisas demais e esqueci-me de ver os meus erros. A aliança que não tenho mais nas mãos, carrego na alma. E se assim for a vontade d’Ele, n’outra volta te farei feliz (por completo)...


*Da série Sobre: a vida, recortada em detalhes.

P.S. Um feliz aniversário para a pessoa mais especial que tive a oportunidade de conhecer e que, certamente, não olhará esse blog...

sobre o inapropriado…

Postado por Abaixo do Radar , segunda-feira, 2 de abril de 2012 00:05

“It’s not appropriate, don’t think that this is it..." (Two Door Cinema Club)

Ela, sempre participativa, nunca deixava de fitá-lo com o olhar. Ele mantinha a postura, tanto pela ética, quanto por motivos dos quais esquivava lembrar. Guardava uma distância segura, talvez para evitar que os fins justificassem os meios.

No começo eram calças jeans e camisetas, em um básico despojado que se não fossem as belas madeixas e tom de pele, passaria despercebida. De repente, o estilo foi passando a um vestido com decote sexy-provocativo e um make-up bem mais elaborado, atenuando um desejo de batalha.

Ela acentuou as pinceladas provocantes, apimentando seu jogo com ligações e mensagens desnecessárias. Ele resistia, agia desentendido e seguia inabalável. Nem mesmo o caprichado abraço e as 43 razões para retribuir um olhar pareciam afetá-lo.

O fim da estória, que ainda não tinha chegado mas já parecia próximo, ninguém sabe. O certo é que ele manteria a postura de sempre, mesmo curioso sobre o que mais ela tentaria. Restava, apenas, saber do que mais ela era capaz.


*Da série Sobre: a vida, recortada em detalhes.

sobre o não ser...

Postado por Abaixo do Radar , domingo, 1 de abril de 2012 01:40

“The summer's gone before you know..." (Massive Attack)

Carregava as mais diversas marcas de batalha e acabava de sair dilacerado de mais uma delas. Combativo, mas já sem tanta vitalidade naquele momento, seguia degrau a degrau enfrentando suas dores e aceitando as cicatrizes que reconhecia em si.

Carregava as marcas do tempo, da família que havia constituído e reconstituído. Doce, mas já sem tanta meiguice naquele momento, não era mais aquela bela menina com corpo de mulher que outrora causava um furor por onde passava.

Carregavam as lembranças de algo que um dia pareceu que seria, mas nem chegou a ser. Estranho, mas já desconexo naquele momento, haviam sido amantes ardentes, amigos, companheiros, mas nunca namorados.

Esbarraram no momento em que ele saía e ela entrava. Um festival de encontros desencontrados que os deixava, de certo modo, constrangidos. Embora a distância tenha se tornado lugar comum, a deferência entre ambos os fez lembrar com carinho do que talvez nem tenha sido.


*Da série Sobre: a vida, recortada em detalhes.